Em destaque

Material para prova – PSel nº 1/2017

Caras e caros, como vão?
O material de apoio para a prova da seleção do PET já está disponível na pasta do PSel (https://drive.google.com/drive/folders/1Ez-OBGVQg_GKdxF6X720PUGctW8vQ4Se?usp=sharing)!
São 3 textos e 1 vídeo, sendo eles:
ZAPATER, Maíra Cardoso. O discurso de ódio e os limites da liberdade de expressão. In: Quando o poder da palavra constrói a palavra do poder. Revista dos Tribunais Online, Ciências Penais, vol. 17/2012.
CORBO, Wallace. Reflexões acerca da função contramajoritária do STF na proteção de direitos de minorias. Revista dos Tribunais, Rio de Janeiro, vol. 4/2014.
MIGUEL, Luís Felipe. Da “doutrinação marxista” à “ideologia de gênero” – Escola Sem Partido e as leis da mordaça no parlamento brasileiro. Revista Direito & Práxis, Rio de Janeiro, Vol. 07, N. 15, 2016.
VOZES DA IGUALDADE. Nossa voz urgente – gênero no Enem. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VyE3Erktg9s>.
Lembrando que poderá haver consulta ao material IMPRESSO durante a prova.
Bons estudos! 🙂
Atenciosamente,
PET Direito – UnB

 

Em destaque

Processo Seletivo nº 1/2017

É com muito prazer que o PET Direito UnB anuncia a abertura de mais um processo seletivo para a entrada de novas e novos integrantes! A seleção consistirá na realização de prova escrita e de entrevista. Os textos para a realização da prova serão disponibilizados em breve. Trata-se do edital nº 1/2017, para ingresso no primeiro semestre de 2018.

Para mais informações sobre inscrições e calendário, as interessadas deverão acessar o EDITAL disponível na pasta do PSEL: https://drive.google.com/drive/folders/1Ez-OBGVQg_GKdxF6X720PUGctW8vQ4Se

Não sabe o que é o PET? O Programa de Educação Tutorial trabalha desenvolvendo atividades nas três áreas do tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão, entendendo que a integração entre estas é fundamental para pensarmos o direito criticamente, para além dos conteúdos convencionais que aprendemos em sala de aula e sempre a partir dos problemas reais que existem.

Buscamos sempre promover o diálogo e a produção de saberes sob a perspectiva dos direitos humanos e da promoção de igualdade de gênero, de raça e de classe social.

Nossas principais atividades consistem na realização de Palestras, Jornadas de Estudos, Produção de Artigos e Atividades de Extensão e atualmente estamos divididos em seis áreas: Acadêmico, Extensão, Comunicação, Eventos, Financeiro e Integração.

Venha fazer parte dessa construção conosco!

As interessadas e os interessados deverão enviar os seguintes documentos para o e-mail do PET (petdireitounb@gmail.com) com assunto “Inscrição PSel 2017”:

– Questionário e ficha de inscrição DAIA devidamente preenchidas
(Disponíveis na pasta do Google Drive: https://drive.google.com/…/1Ez-OBGVQg_GKdxF6X720PUGctW8vQ4S…)
– Histórico escolar emitido pela coordenação de graduação do curso contendo índice de rendimento acadêmico (IRA);
– Cópia do documento de identidade e CPF;
– Autodeclaração como negra/o, escrita de punho próprio, para estudantes que optarem pela cota;
– Documento emitido pela Diretoria de Desenvolvimento Social da UnB (DDS) que comprove vinculação com Assistência Estudantil, tendo em vista a distribuição preferencial de bolsas estabelecida nos pontos 9 a 9.3 deste edital.


Programa de Educação Tutorial – PET/Direito

Resultado do Processo Seletivo n º 1/2016

Devido à liberação de mais duas vagas, informamos que 8 pessoas foram selecionadas a princípio e não 6 como indicava o edital. Ressaltamos que dentre essas vagas, 4 são para bolsistas e 4 para voluntárias/os. Agradecemos imensamente a participação de cada uma/um e lembramos que no decorrer do ano mais pessoas podem ser chamadas seguindo a lista de espera.

Selecionadas/os:
Daniela Nunes (bolsista);
Matheus Lira;
Maritza Barcellos;
Giovanni Castiglionni (bolsista);
Grauther Nascimento (bolsista);
Carlos Roberto;
Débora Oliveira (bolsista);
Isabela Neves.
Lista de espera na ordem de convocação:
Cecília Rosal;
Amanda Luize;
Leonardo Santos;
Gabriela Morais;
Valéria Vânia;
Verena Serpa.

Em breve entramos em contato com as/os aprovadas/os.

Ocupa e Resiste

* Por João Victor Ferreira15036565_709936242490104_2160546804850035628_n

            Resistir pressupõe Existir; Existir é estar ou haver. O pressuposto de Ocupar também é Existir, ou talvez o pressuposto de Existir seja Ocupar. Nas grandes revoluções do mundo – pautadas na busca de direitos sociais, igualdade e respeito – os manifestantes ocupavam espaços públicos e do governo com o objetivo de serem ouvidos e respeitados. Foi assim naRevolução Mexicana, pautada pelos trabalhadores e que deu origem à primeira Constituição do mundo a tratar Direitos Sociais com status Constitucional. Foi assim também na Constituição Russa que mais tarde adotou a ‘Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado’ e no mesmo sentido evoluiu os Direitos Sociais ao status de Constitucional. Grande influência, para esse giro de Constitucionalização de Direitos Sociais, também veio da Alemanha com a promulgação da famosa Constituição de Weimar que foi um marco para a positivação de Direitos Sociais de segunda geração como trabalho, saúde, cultura e EDUCAÇÃO.

            Em séculos, grandes evoluções no quesito de positivação de Direitos Sociais só foram possíveis através da participação ativa do povo em reivindicações de massa, manifestações e revoluções. Foi assim em 1984 com os comícios das ‘Diretas Já!’ que reivindicavam a volta das eleições diretas no País, o fim da tortura, a Dignidade da Pessoa Humana e o fim da Ditadura Civil-Militar . No mesmo sentido em 2013, onde a população foi às ruas em protesto contra o aumento das tarifas dos ônibus e que desencadeou em uma grande manifestação nacional com várias pautas, sobretudo a reforma política. Os titulares do Direito tem um papel fundamental na manutenção destes, principalmente quando a ascensão de um governo golpista e sem legitimidade emerge para usurpar o que foi conquistado com suor e sangue em outrora.

            Em 2016, milhares de secundaristas ocuparam suas escolas com o objetivo de transmitir uma mensagem para o Governo Federal e para o Brasil: NÓS EXISTIMOS; E a melhor maneira que encontraram de transmitir essa mensagem foi através da ocupação do lugar onde muitos passam a maior parte do tempo, aprendem e chamam de ‘segundo lar’. A escola, como polo de poder e civilidade, deve canalizar os acontecimentos da sociedade e fomentar estes com debates e reflexões dentro da própria instituição.  Contudo isso se faz impossível devido ao currículo defasado imposto pelo MEC e pela alta cobrança dos exames e vestibulares de matérias padrão onde se exige um conhecimento técnico. Contudo, reflexões a respeito dos últimos atos monocráticos do Governo Golpista, sem a consulta popular, levou a juventude a refletir acerca do projeto de País que queremos e os rumos que o verdadeiro Brasil está desenvolvendo. Foi assim que o debate a respeito da MP do novo Ensino Médio e da PEC 55 (antiga 241) chegou ao epicentro das escolas secundárias do Brasil. Simplesmente não podemos aguentar calados!  E a partir desse desejo os estudantes ocuparam suas escolas contra a MP, contra a PEC 55, contra a Escola sem Partido e contra a precarização do ensino público gratuito.

            Estes são chamados, Brasil a fora, de ‘vagabundos’, ‘baderneiros’, ‘maconheiros’, ‘esquerdopatas’ e diversas apropriações pejorativas, onde os agressores se legitimam em um simples argumento: ‘#RespeitaMinhaAula’. Desinformados estes que desconhecem o cerne do movimento e que este se legitima em um bem coletivo maior que visa proteger as gerações futuras de atos políticos-jurídicos unilaterais que pretendem precarizar ainda mais o modelo de educação pública brasileira.

            Há tempos, percebi que a Universidade, um dos berços formador das elites e da hegemonia do conhecimento, permaneceu estática com tudo que vêm ocorrendo no Brasil. O berço do conhecimento, dos baluartes, da reflexão e da pluralidade simplesmente fechou os olhos para o seu alvo – a sociedade – e continuou em sua vida rotineira e monótona de aulas expositivas. Foi necessário um rugir dos secundaristas para que a Universidade acordasse e, com toda sua força, demonstrasse que não compactua com as atitudes do Governo.

            Dentre todas as Federais, a Universidade de Brasília tem um papel de destaque por sua posição geográfica estratégica bem ao centro do poder do País. No dia 31 de Outubro os alunos decidiram, em Assembleia, ocupar a reitoria da Universidade como ato de resistência a tudo que vem sido imposto nesses últimos meses por esse governo ilegítimo. E após tal ato, diversas Faculdades da nossa Universidade também fizeram Assembleias em seus cursos para deliberar a respeito da ocupação de seus respectivos espaços físicos. Diversos departamentos prestaram apoio e solidariedade à ocupação, inclusive apoiando de forma concreta ocupando também seus respectivos espaços e engradecendo o movimento.

            Ocupar… Resistir… Existir… Ocupar! Ocupamos como forma de Resistência a medidas cruéis que cortam na carne do trabalhador pobre e da classe média, como é o caso da PEC 55 que congela os gastos primários por um lapso temporal de até 20 anos, – 10 anos prorrogáveis por mais 10 anos – que impede a ampliação e o aprimoramento dos serviços públicos como saúde, segurança, transporte e educação. Lutamos por uma Universidade que não venha a ser precarizada pelo corte de gastos, que tenha docentes de qualidade com um salário digno, que tenha bolsa para Pesquisa, Extensão, PET, convênio com intercâmbios, um espaço físico decente e salubre, que dê a condição pra população de PERMANECER na Universidade com as bolsas de assistência estudantil, moradia na Casa do Estudante Universitário, bolsas de auxílio moradia para estudantes de outros Campi fora do Darcy Ribeiro, consequentemente, lutamos por uma Universidade melhor, com infraestrutura e qualidade e, sobretudo, para que no futuro continue existindo Universidade Federal pública e de qualidade com condições de acesso e permanência para todos.

            Ocupamos e Resistimos com o propósito de Existir, de ter voz, de ter o direito de participar e criticar ativamente as medidas impostas pelo Governo. Como resistir pressupõe existir, as ocupações funcionam como alicerce legitimador para dar voz e dizer que estamos aqui e que não estamos felizes com tudo que vem sido feito, que exigimos mudanças e queremos participar dessa mudança. Somos uma juventude inspirada e que sonha com um futuro promissor para nosso País, que aspira projetos e que faz acontecer, e qual é a maior prova viva disso (?): as ocupações.

            Diferente do que muitos pensam, as ocupações são um berço de cultura e aprendizado, uma verdadeira lição de política, inclusão, militância e respeito. Nos espaços são desenvolvidas diversas atividades como oficinas, aulões, debates, dança, música e cultura. É um espaço maravilhoso de se desfrutar, ali se aprende o que significa vivência e a partir da vivência se aprende o que é política e cultura. Ninguém ocupa com o intuito de matar aula, usar drogas e depredar o patrimônio público. Absolutamente ninguém se submeteria a passar necessidade de comida, conforto, dormir no frio, em colchões desconfortáveis e, o pior, 24 horas por dia com medo de uma possível ação da polícia em uma manobra de desocupação com o intuito de atingir objetivos tão supérfluos. Como disse anteriormente, se ocupa com um objetivo e esse objetivo é que tenhamos um futuro digno.

            Ocupamos, Resistimos, Existimos e Ocupamos! Convido aqueles que querem saber mais ou que tem um preconceito errado a respeito do movimento a participar das ocupações, conhecer as instalações e o trabalho desenvolvido. Visitem também a página no Facebook[1] para saber da programação e da relação de itens para doação, caso possam ajudar.

            A juventude jamais se calará diante das barbáries dos oligarcas, dos controladores do poder, das injustiças sociais e da mídia. É um movimento estudantil jovem que mostra que o Brasil vai mudar, é só questão de tempo. Ocupa! Ocupa! Ocupa e Resiste.

[1] https://www.facebook.com/Ocupa-UnB-699282066888855/?fref=ts

O outro

Por Carolina Freire

Fazer Direito na Universidade de Brasília é selo de privilégio, e de privilégio a maioria de seus cursistas conhece bem. O berço nobre, por vezes jurista, lhes garante uma imensidão de acessos. De cursos que fazem volume no lattes até viagens ao exterior, os capitais cultural e acadêmico se recheiam de tudo que parece relevante no quesito saber.

Composto por discentes e docentes que parecem compartilhar da mesma história de vida já narrada, o elitismo do curso não é velado. Viver entre iguais é rotina que se interrompe em alguns raros momentos, tais como o estágio obrigatório realizado no Núcleo de Prática Jurídica (NPJ)¹ e a extensão.

No núcleo, a orientação recebida é de necessidade de polidez no atendimento ao público de baixa renda e cuja escolaridade é reflexo disso. São demandas diversas onde o cunho jurídico precisa ser retirado do emaranhado de informações trazido pelos assessorados, em cronologia não linear e com filtro de relevância bem diferente do utilizado pelo jurista. Aqui a perspectiva é clientelista, de serviço prestado, de favor, corroborada todas as vezes em que nos chamam de ‘doutor(a)’.

Por outro lado, quando se fala em extensão a sugestão é de horizontalidade. Mesmo assim o estranhamento do outro distante – espacial e socialmente – é latente. É estranhamento que se desdobra em fetiche do exótico, é visita ao zoológico social, é alma boa fazendo caridade, é serviço jesuítico moderno com inspiração iluminista levando de uma só vez a salvação e o conhecimento àquelas almas em escuridão.

Por vezes confundida com serviço voluntário, a troca de saberes corre o risco de ser apenas colonização. Assim como a horizontalidade, a bilateralidade do fluxo de conhecimentos também depende de exercício contínuo. Há de se entender, neste processo, que os conhecimentos não se encontram em mesmo patamar, não porque valem mais ou menos – comparativamente – mas porque são valorados de diferentes formas. Disso deriva a necessidade de não ser ingênuo, não basta fazer-se de bom moço que valoriza toda forma de saber, se ali chegará com o distanciamento digno de cientista em trabalho laboratorial, se vai instrumentalizar, transformando aquelas pessoas em meros objetos de estudo, matéria prima para artigo publicado. Extensão não é cursada, é vivida.

Em ambos os casos se requer o exercício da capacidade comunicativa, é sobre compreensão mútua. E nessa esfera, me desculpem dizer, mas pouco vale saber outros idiomas, conhecer o jargão jurista ou ter todas as expressões de latim ao pé da letra. Aqui é sobre escuta ativa – guardem esse termo – é sobre interpretação não cobrada pelo CESPE, sobre paciência e também carinho. Por outro lado, também é sobre escolhas, de palavras, de expressões, de construção do enunciado. Para além de questões de fala, é gesto, é contato, é gente.

E quem sabe assim, aprendendo a utilizar a linguagem pra entender e ser entendido em vez de selecionar verbete que silencia, os abismos que distanciam os acadêmicos da ‘comunidade’ possam ser reduzidos. Talvez compreendendo a linguagem como instrumento dual de acesso e dominação que esconde infinita disputa de poder por trás da falsa neutralidade, poderemos nadar contra a corrente em escolher a comunicação em detrimento do atrativo e reprovável hábito de fazer-se incompreensível como carimbo de status.

Eu curso Direito e por meio da extensão encontro pertencimento e sonho que este seja realidade para a infinidade de ‘outros’ que me rodeiam. Eu sou acadêmica, mas também sou comunidade; eu sou a graduanda com quem você esbarra no corredor, mas também sou o outro do qual você se distancia. Eu sou o silêncio dos meus iguais que não conseguiram estar em espaços como estes, mas também sou seu grito sempre que ocupo, seu orgulho sempre que resisto. Eu tenho nome sem origem estrangeira e endereço onde você nunca pisou, e eu vou fazer diferença, senão para os seus, para os meus.

¹ Espaço da UnB localizado na Ceilândia e onde há o acolhimento de demandas jurídicas de moradores da cidade que tenham o rendimento limitado a 3 salários mínimos.

Uma despedido em prol da minha sanidade

Por Amanda Conti

Antes de entrar no Direito ele nunca foi minha primeira, segunda, sequer terceira opção. Na verdade, chegava a dizer que queria fazer tudo, menos Direito. Então, porque eu entrei para Direito?

Quando estava no Ensino Médio, sempre me classificava entre os melhores estudantes do colégio, tirava sempre boas notas, era vista como uma “nerd”. Sempre me diziam que eu deveria fazer um “bom curso”, afinal, eu tinha nota para passar para um “bom curso”, mesmo que isso significasse fazer algo que eu não gostasse. Quando estava no terceiro ano do Ensino Médio, estava à beira de um colapso, com minhas notas caindo rapidamente, porque eu não tinha vontade de estudar, não tinha vontade de ir para aula, não tinha  vontade de continuar. A única coisa que queria era arranjar um jeito de sair da escola, ir embora. Passei no vestibular no meio do ano e entrei na UnB.

Após entrar para o Direito, eu comecei a ver que tinha alguns aspectos bastante interessantes no curso. Quando estava no primeiro ano do médio, tinha feito um curso de direito para Ensino Médio, e tinha gostado. Então pensava: porque não dar uma chance? Eu me divertia com as pessoas novas que conhecia, com as atividades extracurriculares que a UnB proporcionava, com as extensões, com as festas e tudo mais, mas as partes que eram ruins, e que já tinha previsto que seriam ruins, continuavam lá. O Direito ainda é um curso elitista, meritocrático, machista, racista, LGBTIfóbico, e ainda que possa tentar deixar ele menos assim, ele ainda é. A arte, a criatividade, que sempre estiveram dentro das minhas perspectivas de futuro, não estavam lá. Por mais que eu goste de várias áreas dentro do curso, por mais que eu esteja envolvida em projetos dentro dele, ainda sinto como se o curso só me deixasse frustrada, triste, e doente. Sim, doente.

Durante o semestre passado eu me encontrava sem condições de ir para as aulas, mas continuava tendo que vir, mesmo que isso significasse tomar remédios pesados, bastante pesados. Me adoecia ver o meu custo se resumindo a arrogâncias – de alunos e professores –, me adoecia que as expectativas que tinham dos alunos eram as mesmas de cem anos atrás: repetidores de códigos, de palavras de “grandes nomes” de pensamentos arcaicos, com um pensamento acrítico centrado em seus próprios umbigos.

E a gota d’água foi a prova de proficiência. Quem já fez alguma vez sabe do que estou falando – aquelas muitas questões, que se resumem aos nomes grandes e a uma pesquisada rápida no código. Durante um tempo, fiz as questões sem pensar muito. Mas eu apenas olhava para elas, e via as mesmas questões que fiz em outras matérias. Algumas chegavam a ser idênticas – sim idênticas, sem nenhum exagero. E simplesmente me perguntava: é isso? É essa a expectativa de um estudante de direito? Que ele saiba procurar um artigo no Vade Mecum? É esse tipo de prova massificadora, maçante que eles querem que eu e todas as demais pessoas nesse auditório façam? Uma garota sussurrando ao meu lado falou “que chatice”. E eu ri baixinho, concordando. Levantei meus olhos e vi uma imensidão de estudantes de direito, virando as páginas do Código de forma mecânica, repetitiva. Não conseguia olhar sem sentir um misto de tristeza, raiva, ódio e dor. É a isso que se resume o estudo jurídico? É a isso que se resume esse curso, que deveria ser considerado um dos melhores do país? É isso que esperam da gente? Olhando para os lados, eu não via futuros juristas, não via futuros advogados, procuradores, defensores públicos, pesquisadores, magistrados. Eu via máquinas, eu via o resultado da nossa Educação, não apenas no Ensino Superior, mas em todos os níveis, e a nuvem negra que paira sobre ela dizendo: isso só vai piorar. Não está ruim o suficiente? Charles Chaplin, no filme The Great Dictator de 1940 – há mais de 70 anos – fala algo que reflete ainda a nossa educação de hoje.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

(…)

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… que vos desprezam… que vos escravizam… que arregimentam as vossas vidas… que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar… os que não se fazem amar e os inumanos. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade!(Charles Chaplin, O grande ditador. Tradução disponível em: http://www.seufuturonapratica.com.br/portal/fileadmin/user_upload/POL/discurso_final.pdf)

Foi nesse momento que eu desisti, eu não conseguia terminar a prova, eu não conseguia ficar naquela sala sem sentir aquela raiva, por saber que era isso a que estava se resumindo a nossa educação, era essa a expectativa que tinham sobre o que um estudante de direito deveria ser. Mais uma pessoa capaz de responder uma prova. Eu era mais um soldado no meio desse exército de pessoas que vão sair de lá como máquinas para fazer parte desse aparelho instituído da nossa sociedade. Nesse momento, eu chamei o aplicador, me levantei e entreguei a prova para ele. Ele me perguntou se eu já tinha terminado, se não queria revisar nada, e eu simplesmente falei que me recusava a terminar a prova. Guardei meu material, levantei novamente e agradeci pela tristeza de ver que o Direito era só mais uma educação em massa. Nesse momento, ouvi risos, um amém irônico, e isso foi horrível, por saber que eu estava fora, abandonado a prova, mas era só mais uma entre os vários estudantes, e não fiz a menor diferença. Semestre que vem, novos estudantes farão essa mesma prova, e no semestre seguinte. E cada estudante, terá que ser aprovado em pelo menos duas provas nesse mesmo estilo para se formarem. Isso somado a todas as provas que fizeram durante suas vidas, no mesmo estilo, igualmente maçantes e sem sentido.

Falei para minha mãe, quando a encontrei, que não vou voltar semestre que vem, não sei se vou trancar o curso se vou abandoná-lo de vez. A decisão é difícil, pois por mais que eu esteja infeliz, por mais que tudo isso tenha me adoecido, me levado a tomar uma quantidade enorme de medicamentos, todos os dias, me machucado, chegado próximo de tentar me matar, ainda vão me recriminar por abandonar o curso. Por não ter um diploma na mão. Afinal, já estou com 19 anos, estou ficando velha. Tenho já dezenove anos. Mas eu abandonei o curso. A amiga da minha mãe não vai mais poder falar “a filha da minha amiga já está terminando o curso de direito”, minha tia não vai mais poder falar “você está aí fazendo nada, mas sua prima já está terminando a faculdade. Vai ser advogada”. Mas eu não quero esse diploma, não quero ser mais uma. Estou cansada das pessoas me falarem “mas é um curso tão bom, e qualquer coisa, o direito te abre muitas portas”, “qualquer coisa você faz um concurso público”. A que custo? Minha saúde? Minha vida? Minha felicidade? E alguém sequer me perguntou se eu quero passar em um concurso público? Se eu quero qualquer uma dessas coisas?

No final, serei apenas um estudante a menos, que não fará nenhuma diferença para esse sistema, no qual entram 120 novos corpos todos os semestres. Minha tristeza de hoje? Não ter rasgado aquela prova ao meio e saído sapateando.

Processo Seletivo n. 1/2016

A Faculdade de Direito da Universidade de Brasília torna público o processo de seleção para alunas/os do Programa de Educação Tutorial (PET), da Secretaria de Ensino Superior (SESu/MEC) e do Grupo PET Direito da UnB. As/os interessadas/os deverão atender aos requisitos e obedecer ao cronograma de atividades especificado neste edital.

edital-pet-final

ficha-de-inscricao-do-programa

questionario

ficha-de-inscricao-daia

Superação (?)

Por Nathálya Ananias

Destaque na sala de aula
Aluna exemplar exceto pela conversa
Menina de Federal
Exemplo
Era assim que as minhas professoras e professores se referiam a mim durante a minha vida escolar
Uma criança que não foi pressionada pelos pais a ser alguém muito grande
Só queriam que eu me estabelecesse financeiramente e tivesse o meu lugar para morar
O pai mecânico, a mãe professora
Sonhos grandes? Pra quê?
Ter o ‘pé no chão’ era o importante
Mas eu sonhava e sonhava alto
Meu sonho?
Eu seria alguém na vida
Muito mais que qualquer um ali pudesse imaginar
Superaria qualquer expectativa
E o primeiro passo seria passar em direito na Universidade de Brasília
Sonho realizado
Passei
Agora minha superação se mostra cada vez mais possível
E algum dia eu ainda serei a capa da revista que exibirá o meu sucesso e a minha batalha

Essa história seria até bonita não fosse exageradamente idealizada e romantizada. Construída de modo a fazer com que você, mas principalmente eu, não enxerguemos os problemas presentes em cada linha, em cada palavra e em cada pilar que compõem a estrutura social que nos molda e que ao mesmo tempo formamos.

Fazer parte de um grupo seleto de alunas de um curso extremamente elitista não é para qualquer pessoa. Aquelas que o fazem possuem sim, privilégios, mesmo que em suas diversas nuances, e para chegar até ele foi preciso que eu me esforçasse extremamente no que diz respeito aos estudos. Porém, para além disso, é preciso reconhecer determinados privilégios não apenas no processo de ingresso na Universidade, mas na minha vida como um todo.

Diferente de muitas pessoas com as quais estudei, minha mãe e meu pai me incentivavam nos estudos e me davam o aporte necessário. Trabalhei porque quis e não porque eu precisava ajudar em casa. Tive uma tia que pagou meu cursinho e que abriu sua casa para que eu morasse com sua família em Brasília. E sem deixar de levar em consideração cada um desses fatores eu consegui o que a princípio era meu sonho. E você pode até pensar que isso é sonhar “baixo”, mas na verdade era muito “alto” para muitas pessoas do meu convívio escolar que passaram bem longe de uma Universidade Pública ou até mesmo de uma Universidade.

Assim que cheguei na UnB me deparei com um universo extremamente destoante do meu. Estava muito enganada ao pensar que as diferenças não seriam significativas e que eu facilmente me adequaria aos espaços. Não saber inglês era a menor das minhas preocupações, assim como nunca ter viajado para vários lugares e países. Eu precisava fazer amigas, me inserir em grupos. E por mais que tenha sido difícil, porque muitas já se conheciam do Ensino Médio, eu consegui. Porém, comecei a perceber que não bastava eu me inserir, era preciso permanecer. Precisava ter tido experiências similares, ter lido os mesmos livros, assistido os mesmos filmes, mesmos desenhos, e, principalmente, ter dinheiro para acompanhá-las. Me esforcei bastante, mas consegui, ou pelo menos acreditei que sim.

Achei que o fato de minhas amigas terem discussões sobre classe faria com que eu sofreria menos. Achei que a assistência estudantil na prática era como na teoria. Achei que seria fácil compor os espaços como planejado. Ilusão.

O que a princípio seriam direitos se colocavam e ainda se colocam como privilégios e favores. Estar em uma Universidade que muitas pessoas nem sequer sonham estar, receber bolsa permanência enquanto muitas precisam e não são selecionadas no processo, morar na Casa do Estudante Universitário quando muitas que não moram no DF não recebem ao menos bolsa pecúnia, fazer contatos que só me foram possíveis por cursar direito na UnB. Estas são algumas das muitas constatações que posso fazer. Porém, se em algum momento tento contestar tudo isso me chamam agressiva, me calam e dizem que eu estou “pegando o boi” de ter tudo o que tenho e de estar onde estou. E já não bastasse ainda me gritam EXCELÊNCIA ACADÊMICA. Preciso render, preciso ter notas boas, preciso, preciso, preciso.

 A sua empatia se faz mais que necessária para compreender os problemas dessa tão idolatrada meritocracia e não para sentir pena ou dó. As exceções existem, porque elas devem existir. São pessoas que ascendem socialmente, porque se a elas não fosse permitido o fazer, as oprimidas se rebelariam. Mas se apresentando assim, as oprimidas não apenas não se voltam contra essa estrutura como querem oprimir aquelas iguais a elas.

Minha voz e permanência nessa Universidade e nesse curso são muito mais que estar, são resistência. Compor este espaço extremamente elitista me traz dores e me molda de muitas maneiras, mas muitas vezes “abrir mão” de tudo isso não se mostra uma opção, porque enquanto você planeja sua próxima viagem a minha maior preocupação é como pagar as contas sendo que a bolsa não caiu e meu pai não tem como me mandar dinheiro.

Não peço a sua dó ou piedade, mas sim que perceba, reflita e mude muitas das suas atitudes. Essas histórias de superação que as pessoas tanto gostam não são bonitas e não devem ser tratadas como se o fossem. Entender isso é o mínimo para que haja um questionamento ou até possivelmente uma mudança.

*O texto está no feminino.

Suicídio

Suicídio. 
Su i cí dio
S u i c í d i o.
Suicídio: ato de acabar com a própria vida.
32 brasileiros se matam por dia e a maioria dos casos poderiam ser evitados.
Suicídio não é covardia, não é fraqueza, não é óbvio, e fechar os olhos e fingir que não existe não vai ajudar a solucionar este problema.
 
Talvez seja necessário repetir mais algumas várias vezes s u i c í d i o, para que as pessoas entendam e se acostumem que esta palavra não deve ser um tabu, e que não é vergonha nenhuma falar sobre o tema. O suicídio não é vergonhoso nem conhecer alguém que fez e muito menos pensar em fazer isso; vergonhoso é ignorar e se manter inerte sobre este problema tão grave que nos ronda.
 
TRINTA E DOIS brasileiros por dia tiram suas próprias vidas, este número é maior que as taxas de pessoas mortas por AIDS e pela maioria dos tipos de câncer¹. Estas pessoas convivem com a gente, são nossos colegas de classe, vizinhos, amigos, parentes, conhecidos, aquela pessoa que vemos sofrendo e ignoramos. E mesmo assim continuamos calados. A verdade é que nós matamos 32 pessoas por dia, pois o sofrimento do outro não nos afeta, somos inertes aos outros e seus problemas.
 
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde 9 entre 10 casos poderiam ser prevenidos. Talvez se a nossa sociedade não tivesse tanta vergonha de falar sobre o tema, se nós não fossemos tão individualistas e incapazes de se afetar com os outros, se não houvesse tantos julgamentos e mais atenção, se as pessoas soubessem que é normal sofrer e pedir ajuda, esse quadro seria diferente. Mas a verdade é que é difícil pedir ajuda quando parece que tudo nos culpa por termos um problema e nos obriga a escondê-lo. Esse mal é silenciado como se assim pudéssemos, ao negar que ele existe, fechar os olhos para sua existência.
 
Mas isto precisa parar e algumas coisas precisam ser ditas:
 
1.  Suicídio não é covardia. Durkheim já falava sobre esse assunto em sua época, mas mesmo hoje tratamos disso como se fosse vergonhoso falar que alguém cometeu suicídio, como se isso fosse “estragar” a imagem da pessoa. O suicídio é um aspecto psicológico, social e político. É um aspecto psicológico pois em muitos casos encontra-se ligado a doenças psicológica, e é necessário o tratamento, o acompanhamento pelas pessoas que estão perto e por profissionais que possam orientar. E isso vai além da depressão, pois pessoas afetadas por outros tipos de doenças psicológicas tem maiores riscos de suicídio. É um problema social: pessoas pertencentes a minorias sociais em vista do preconceito, e de situações críticas que enfrentam diariamente são pressionadas e estigmatizadas de tal forma que a vida passa a ser vista como uma vida impossível². É um aspecto político, em vista que políticas públicas, atuando em diversos campos (familiar, proteção de crianças e adolescentes, entre outros) e projetos de conscientização são necessários para que possamos discutir sobre isso, para que as pessoas possam falar sobre isso.
 
2.  O suicídio não é óbvio. Da mesma forma, depressão e outros sofrimentos psíquicos não são óbvios, e por isso é necessário nos atentarmos muitas vezes a detalhes e pequenas mudanças. É necessário estarmos abertos para conversar sobre isso. Nem todos estamos preparados para lidar com isso, mas a simples ideia de que alguém liga, alguém se importa é muito importante.
 
3.   Suicídio não é falta de Deus. Não podemos envolver a religião em tudo e tentar empurrar suas justificações goela à baixo. O Suicídio é um aspecto complexo, e é um problema, como dissemos anteriormente, social, político e psicológico e as pessoas que veem como única e última opção o suicídio, fazem isso por muitos motivos, e não podemos reduzir isso a um motivo religioso. 
 
4. Não falar, fechar os olhos, negar que o suicídio existe não vai fazer que ele pare de acontecer. Escutar, abrir os olhos e conversar sobre isso pode evitar que mais alguém morra. 
5. Caso precise de ajuda ligue 141, Centro de Valorização da Vida (CVV). 
 
² COVER, Rob. Queen Youth Suicide, Culture and Identity: Unliveable Lives?

Por que eu vivo?

Por Daniel Rezende

Quando eu tinha entre 12 e 14 anos, uma pergunta ecoava muito fortemente em mim: qual a finalidade da vida?

Nessa idade, eu era bem incomodado comigo mesmo, há pouco eu vinha descobrindo a minha sexualidade e, depois de anos sofrendo bullying, eu me deparei com uma verdade incontornável: tudo o que meus agressores bradavam na minha cara era verdade, eu era gay.

Mas, por quê? Por que eu tinha que ser diferente? Qual era a finalidade de tudo isso?

Essas questões me atormentavam profundamente e, apesar de não ter uma família muito religiosa, recorri à fé para tentar achar minhas respostas. Todas as noites, antes de dormir, eu me ajoelhava ao lado da cama e suplicava uma resposta divina.

Não consigo me lembrar de quantas vezes eu chorei nesses momentos, em silêncio e de portas fechadas, para que meus pais não pudessem me escutar. Eu repetia, como em um mantra: “eu não quero ser gay”, com a culpa pesando no meu coração, pela possibilidade de frustrar quem mais tinha me dado amor e carinho.

Eu era uma criança, um filho único, chorando no escuro, sozinho. Ninguém sabia do segredo que eu tinha que carregar todos os dias, um segredo que eu fazia questão de guardar a todo custo, era eu contra o mundo: tinha que estar atento ao meu jeito de andar, aos meus trejeitos, aos meus gestos, a minha fala. Eu não podia defender gays, afinal, poderiam achar que eu era um também.

Só quem já sofreu bullying sabe o quanto um olhar pode doer. Eu não queria olhares. Preferia me esconder pela vida inteira, seguir um roteiro pré-definido, tradicional, “normal”, preferia me passar por hétero a ter que lidar com a repreensão de todos.

Aos meus 13 anos, minha mãe se converteu e deu início a uma mudança radical na dinâmica da casa: começou a frequentar a igreja evangélica, a andar com uma Bíblia, a fazer longas orações em voz alta, a citar passagens. Várias vezes, ao me buscar na escola, ela falava sem parar sobre as vontades de Deus para a minha vida. Eu nunca respondia nada.

A persistência da minha mãe me levou a igreja, apesar do meu pai, que sempre rejeitou qualquer influência religiosa sobre mim. Mas eu fui, e as perguntas ainda ressoavam em mim. Eu indagava o pastor e a Bíblia, mas a única resposta que obtive foi sempre a do pecado e a da condenação.

Minhas orações noturnas eram reiteradas todas as noites, eu questionava minha fé, que não era forte o suficiente para me curar. Eu tinha vergonha de mim. Eu odiava a minha situação, e, analisando hoje em dia, eu odiava quem eu era. Por que eu vivo? Qual a finalidade da minha vida?

Deus nunca me respondeu.

Só depois de alguns anos, quando eu me assumi para minha mãe, ela me confessou que havia se convertido porque “não queria ter um filho gay”, algo me marcou fortemente. Ela ainda frequenta a mesma igreja, eu, não mais.

Eu desisti de agradar as pessoas, mas não desisti das minhas inquietações. Percebi, depois de conquistar certa autonomia, que eu só conseguiria as respostas que eu tanto desejava se eu começasse a ser verdadeiro comigo e com as pessoas que estão a minha volta.

Abandonei o fingimento, parei de tentar agradar as pessoas.

Eu sei que não fui o único responsável por minha emancipação, a mim foram dadas condições financeiras, educacionais e sociais para que eu pudesse entender a beleza da diversidade e me empoderar.

Só pude me aceitar melhor depois de conhecer outros iguais a mim, depois de descobrir que eu não era o único a chorar de joelhos à noite. Mas muitos ainda não conseguem respostas às suas perguntas existenciais, têm que enfrentar sozinhos as repreensões diárias, seja da igreja, dos amigos, das piadinhas, dos professores, da família… Muitos se matam no meio do caminho.

Neste momento, em que o PET debate saúde mental, não se pode esquecer a saúde mental LGBT, das pessoas que sofrem sozinhas todos os dias sem que ninguém saiba. Nossa força, nossa saúde, nossa sobrevivência apenas existem quando estamos juntos, quando resistimos e existimos em comunhão, quando conhecemos outros iguais a nós. A visibilidade, o orgulho e a união são indispensáveis para a sobrevivência LGBT.

Eu consegui as respostas para as minhas perguntas. Descobri a finalidade da minha vida.

Eu existo para ser feliz, do meu jeito, e para levar felicidade às pessoas ao meu redor. Eu existo para ser gay, “alegre”, do inglês; mas não somente, quero a plenitude e a felicidade, quero ser alegre em todos os momentos.

Eu quero, sempre e em todos os momentos, ser gay.