Tudo que você precisa saber sobre o PET-Direito!

A seleção do PET está chegando, estamos nos últimos dias de inscrições! Você já se inscreveu? Está pensando em se inscrever? Provavelmente devem surgir muitas dúvidas. Esse edital (ou a mera observação das misteriosas figuras de camisa rosa na sala de vidro) às vezes trazem mais dúvidas do que respostas. Como vai ser essa seleção? Vai ter teste de aptidão física? Precisa de psicotécnico para provar que só entra gente doida? E depois? Vão arrancar o meu couro? Vou perder todos os meus amigos e virar um zumbi que só dorme 2 horas por dia e sobrevive de subway, café e suquinho do RU? 

A princípio, a resposta para todas as perguntas é não, mas algumas petianas e petianos resolveram responder algumas das dúvidas mais comuns que já foram levantadas (até por nós mesmos, quando fomos fazer a famigerada seleção), ou que imaginamos ser relevantes:

1) Como é a prova?

A prova escrita é uma etapa que tem na argumentação todo seu critério de excelência. Não existem respostas corretas e muito menos respostas erradas, o que existe é a ânsia por uma defesa de ideias organizadas que valorizem os Direitos Humanos, sob seus diversos aspectos. Não cobraremos o pedantismos de muitos autores citados, tampouco os milhões de artigos existentes no ordenamento jurídico brasileiro. Trata-se, então, de uma avaliação discursiva, pautada na manifestação de opinião fundamentada, cuja obrigação é se mostrar livre para pensar com criticidade o Direito e as suas implicações nas relações de poder na sociedade.

2) Como é/para que serve a entrevista?

A entrevista é o momento de conhecermos melhor a/o candidata/o, saber seus interesses, suas atividades. Isso é importante para sabermos se a/o candidata/o está alinhada/o com a proposta do PET-Dir, ou seja, de integrar ensino, pesquisa e extensão se dedicando 20h na semana para isso, com comprometimento. Também é o momento de esclarecer alguns pontos sobre a prova escrita. 

A entrevista é feita com uma banca de professores/as e a ideia é ser um momento tranquilo de maior transparência, de maior comunicação entre a gente e os/as futuros/as petianos/as.

3) Como vai ser a visita à Estrutural? Ela vai ser avaliada? Por que estamos indo para lá?

Talvez as atividades pela quais o PET tenha mais carinho e garra para construir sejam suas Oficinas de Extensão na Estrutural. Não somente por elas serem divertidas e interessantíssimas, mas por elas conseguirem gerar reflexão em todas os vários outros momentos petianos, seja nas leituras e discussões semanais no grupo de estudos até a sala de aula de Pesquisa Jurídica. Assim, sendo o sopro que mantém vivas todas as atividades do PET, a Estrutural não poderia ficar de fora na Seleção. Logo, os propósitos de levarmos até a Estrutural as pessoas que pretendem ingressar no PET são (i)já mostrarmos que a Extensão tem um valor especial no PET, (ii)escancarar a ideia de que ser petiana/o é também ser extensionista e (iii)possibilitarmos um contato inicial das/os pessoas ingressas com a cidade e a comunidade da Estrutural. A visita não é classificatória, não conta pontos ao final, mas é eliminatória, por isso é preciso justificar a ausência, caso o horário da visita seja excepcionalmente inviável.

4) Quanto tempo preciso me dedicar ao PET?

Ao entrar no PET, nós assinamos um termo de compromisso afirmando uma dedicação semanal de 20 horas. Temos reunião durante a tarde de quinta-feira, oficinas de extensão aos sábados, reuniões de planejamento da extensão durante a semana, reunião administrativa e aulas de teatro às sextas-feiras, leituras semanais e algumas outras atividades e eventos que são esporádicos e sobrecarregam uma semana ou outra. Parece demais, mas muitas pessoas conseguem, inclusive, conciliar com as horas de estágio. Uma boa organização pessoal permite até uns SS’s.

5) Quanto tempo eu preciso ficar lá?

Para ganhar o certificado do MEC de participação completa no PET é necessário um tempo mínimo de participação de 2 (dois) anos. O tempo máximo em que uma pessoa pode ficar são 3 (três) anos. Qualquer pessoa pode sair no momento que quiser, deixando sua vinculação oficial. Qualquer pessoa pode, porém, integrar todas as atividades do PET mesmo sem nenhum vínculo institucional – são nossas queridas pessoas agregadas, que são sempre muito bem-vindas, pelo tempo que quiserem.

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Seleção PET – Edital nº 1/2013

O PET/Direito UnB torna pública sua chamada para novos/as integrantes. Durante os meses de abril e maio de 2013 será realizada a seleção de alunas/os para compor o grupo. As inscrições vão de 24 de abril de 2013 a partir de 09h00 a 10 de maio de 2013 até 21h00 na Secretaria da Faculdade de Direito da UnB. Serão ofertadas 2 vaga para bolsista e 4 vagas para não bolsistas.

No ato da inscrição, o(a) estudante deverá apresentar:
– Ficha de inscrição e questionário devidamente preenchidos; (Ficha de Inscrição e Questionário de Inscrição. Ambos também serão disponibilizados na xérox da FD – Pasta do PET-Dir)
– Histórico escolar emitido pela coordenação de graduação do curso contendo índice de rendimento acadêmico;
– Cópia do documento de identidade e CPF.

As atividades do processo seletivo do PET/Direito UnB respeitarão o seguinte cronograma de datas e eventos:

 

Evento

Data/Horário

Local

Período de inscrições

Início das inscrições

24 de abril de 2013 / 9h00

Secretaria da Faculdade de Direito da UnB (FA)

Fim das inscrições

10 de maio de 2013 / 21h00

1ª Etapa

Prova de conhecimento

13 de maio de 2013

14h30 – 17h30

FA A1 – 04

Análise do histórico escolar

16 de maio de 2013

FA CT – 07

Divulgação do resultado da 1ª Etapa

17 de maio de 2013

Mural da Faculdade de Direito e http://www.petdirunb.wordpress.com

2ª Etapa

Visita à Estrutural

18 de maio de 2013

Tarde

14h00 – 18h30

Encontro na FA

3ª Etapa

Entrevista e análise da documentação

20 e 21 de maio de 2013

14h00 – 18h00

FA CT – 07

Divulgação do resultado da seleção

22 de maio de 2013

Mural da Faculdade de Direito e http://www.petdirunb.wordpress.com

Segue o Edital nº 1/2013 completo:

 

Universidade de Brasília 

Decanato de Ensino de Graduação – DEG

           Diretoria de Acompanhamento e Integração Acadêmica – DAIA

       Coordenadoria de Monitoria, Intercâmbio e PET – CMIP

 

EDITAL DE SELEÇÃO DE ALUNOS PET

EDITAL Nº. 1/2013

 

O Departamento de Direito da Universidade de Brasília torna público o processo de seleção para alunos do Programa de Educação Tutorial (PET), da Secretaria de Ensino Superior (SESu/MEC) e do Grupo PET Direito da UnB. Os interessados deverão atender aos requisitos e obedecer ao cronograma de atividades especificado neste edital.

1. INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O PROGRAMA

 O PET é um programa acadêmico direcionado a alunos(as) regularmente matriculados(as) em cursos de graduação, que se organizam em grupos, recebendo orientação acadêmica de professores(as)-tutores(as), que tem como objetivos:

  • efetivação do tripé da educação superior extensão, pesquisa e ensino;
  • o envolvimento dos(as) estudantes que dele participam em um processo de formação integral, propiciando-lhes uma compreensão abrangente e aprofundada de sua área de estudos;
  • a melhoria do ensino de graduação;
  • a formação acadêmica ampla do(a) aluno(a);
  • a interdisciplinaridade;
  • a atuação coletiva;
  • o planejamento e a execução, em grupos sob tutoria, de um programa diversificado de atividades acadêmicas.

 

2. INSCRIÇÕES E VAGAS

 2.1 As inscrições serão realizadas na secretaria do Departamento de Direito, no período de 24 de abril de 2013 a 10 de maio de 2013, no horário de funcionamento do guichê de atendimento aos/às alunos/as de graduação, com término às 21h00 do dia 10 de maio de 2013;

 2.2  Serão ofertadas 2 (duas) vagas para bolsistas e 4 (quatro) para não bolsistas.

3. ORIENTAÇÕES

No ato da inscrição, o(a) estudante deverá apresentar:

3.1 Ficha de inscrição devidamente preenchida;

3.2 Histórico escolar emitido pela coordenação de graduação do curso contendo índice de rendimento acadêmico (IRA);

3.3 Cópia do documento de identidade e CPF.

4. REQUISITOS PARA A INSCRIÇÃO NO PROCESSO SELETIVO

Para inscrição no processo seletivo, o(a) candidato(a) deverá:

4.1  Possuir índice de rendimento acadêmico (IRA) maior ou igual a 3,0;

4.2 Estar devidamente matriculado a partir do segundo período do Curso de Direito da UnB.

5. CONDIÇÕES PARA A EFETIVAÇÃO DO(A) ALUNO(A) PET

Para preenchimento da vaga, o(a) aluno(a) PET deverá:

5.1  Ter sido aprovado(a)  no processo de seleção;

5.2  Não acumular bolsa (em caso de bolsitas) de outro programa ou projeto vinculado a CAPES;

5.3  Ter disponibilidade para dedicar 20 (vinte) horas semanais às atividades do Grupo PET-Direito.

 

6. ETAPAS DO PROCESSO SELETIVO (a critério do Tutor)

A seleção será feita em três etapas, divididas em fases. A primeira etapa, de caráter eliminatório e classificatório, consiste de uma avaliação escrita (prova de conhecimento sobre temas referentes às disciplinas Introdução ao Direito 1, Introdução ao Direito 2, Pesquisa Jurídica, Introdução à Sociologia, Introdução à Ciência Política, Sociologia Jurídica, História do Direito e conhecimentos gerais) e da análise do histórico escolar. Somente os(as) candidatos(as) que obtiverem desempenho maior ou igual a 60% da pontuação máxima possível nessa etapa serão selecionados(as) para participarem da segunda etapa.

A segunda etapa, de caráter unicamente eliminatório, consiste em uma visita a Cidade Estrutural com acompanhamento das oficinas de teatro realizadas pelo PET-Direito aos sábados sempre no período da tarde.

A terceira etapa, de caráter eliminatório e classificatório, consiste de uma entrevista com a Comissão responsável pela seleção, combinada com a análise das respostas às perguntas do questionário de seleção de aluno PET (em anexo) e da prova escrita.

6.1 As atividades do processo seletivo serão realizadas de acordo com o cronograma a seguir:

 

Evento

Data/Horário

Local

Período de inscrições

Início das inscrições

24 de abril de 2013 / 9h00

Secretaria da Faculdade de Direito da UnB (FA)

Fim das inscrições

10 de maio de 2013 / 21h00

1ª Etapa

Prova de conhecimento

13 de maio de 2013

14h30 – 17h30

FA A1 – 04

Análise do histórico escolar

16 de maio de 2013

FA CT – 07

Divulgação do resultado da 1ª Etapa

17 de maio de 2013

Mural da Faculdade de Direito e http://www.petdirunb.wordpress.com

2ª Etapa

Visita à Estrutural

18 de maio de 2013

Tarde

14h00 – 18h30

Encontro na FA

3ª Etapa

Entrevista e análise da documentação

20 e 21 de maio de 2013

14h00 – 18h00

FA CT – 07

Divulgação do resultado da seleção

22 de maio de 2013

Mural da Faculdade de Direito e http://www.petdirunb.wordpress.com

 

6.2 Na tabela a seguir a pontuação máxima atribuída a cada fase do processo seletivo.

Etapa

Fase

Pontuação máxima

1ª Etapa

Prova de conhecimento

50

Análise do histórico escolar

2ª Etapa

Visita à Estrutural

Meramente eliminatório

3ª Etapa

Entrevista e análise da documentação

50

  Total

100

6.3  Dos critérios de avaliação e classificação.

 6.3.1 Serão eliminados(as) os(as) candidatos(as) que obtiverem pontuação inferior a 25 na primeira etapa e(ou) 25 na terceira etapa;

6.3.2 Os(As) candidatos(as) não eliminados(as) serão ordenados(as) de acordo com os valores decrescentes das pontuações totais obtidas nas duas etapas e constituirão a lista de aprovados/as;

6.3.3 Caso haja candidato(a) aprovado(a), mas não selecionado(a) dentro do número de vagas, eventualmente poderá vir a ser convocado(a) para ocupar nova vaga que surja durante a validade do edital 1/2013.

 

7. DISPOSIÇÕES FINAIS

 7.1 Informações adicionais sobre o PET poderão ser obtidas no sítio: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12223&Itemid=480 e informações sobre o Grupo PET (Direito), seus integrantes e as atividades realizadas estão disponíveis no link do grupo em: http://www.petdirunb.wordpress.com;

7.2 O(A) candidato(a) selecionado(a) deverá iniciar as suas atividades no início do mês após a homologação do resultado pelo Comitê Local de Acompanhamento – CLA – imediatamente após a divulgação do resultado da seleção, para assegurar sua condição de bolsista;

7.3  A inscrição dos(as) candidatos(as) implica a aceitação dos termos deste edital;

7.4 O(A) candidato(a) classificado(a) assinará termo de compromisso específico com a UnB e com o MEC;

7.5 O(A) bolsista do grupo PET Direito receberá, mensalmente, bolsa no valor de R$ 400,00 (quatrocentos reais);

7.6 O(A) candidato(a) selecionado receberá um certificado de aluno PET após a permanência de dois anos de grupo;

7.7  Este edital terá validade por 1 ano a partir da homologação do resultado;

7.8  Os casos omissos serão decididos pela Comissão responsável pela seleção;

7.9  O presente edital entra em vigor na data de sua publicação.

 

Brasília, 24 de abril de 2013.

Prof. Alexandre Bernardino Costa

Tutor do Grupo PET Direito

Universidade de Brasília (UnB)

 

Presente, mas não necessariamente

Por Juliana Thomazini   

03

Os avanços nos meios de comunicação nos aproximam de pessoas distantes. A vantagem que era sempre mencionada quando aprendíamos sobre globalização no colégio – maior facilidade de relacionamento entre pessoas de lugares distantes entre si.

Carta, telegrama, telefone. O que começou como uma forma de facilitar e agilizar o contato entre pessoas, fomentando atividades como o comércio e o intercâmbio de informações. Celular, internet, facebook. Hoje quase escraviza muitas pessoas que não conseguem passar algumas horas sequer sem ter acesso a esses dispositivos de comunicação. Não entenda mal, considero positiva a possibilidade de fazer amizades e manter outras que sofreriam com a distância por meio da internet. Ela também é um veículo interessante para contatos de trabalho, acadêmicos, e permite que se atinja pessoas antes inimagináveis pela dificuldade de serem acessadas. Mas me incomoda muito que esses meios de comunicação substituam em certos momentos as relações presenciais.

É claro que nem sempre é possível, ou necessário, que se esteja frente a frente com alguém para se atingir o objetivo de um contato. O celular facilita certas interações e permite que as mais diversas situações sejam solucionadas de forma rápida e eficiente. Algumas decisões precisam desse imediatismo e se aproveitam dele. Mas estar sempre disponível, a qualquer tempo, em qualquer lugar, é algo que incomoda a muitas pessoas (acredito) ou pelo menos a mim. Foi-se o tempo em que, para estar isolado do mundo e esquecer os problemas, bastava tirar férias, ou uma folguinha que fosse, e ir para o sítio. Tirar o relógio, esquecer do tempo e não ter hora pra nada. Sem problemas, sem correria, sem ligações inoportunas.

O problema é quando esses meios de comunicação substituem o contato humano real. No facebook é uma pessoa incrível, extrovertida, divertida, com milhões de amizades. Mas no mundo real não sabe se relacionar com quem está a sua volta, então se refugia novamente atrás de um computador, onde parece mais feliz, na sua zona de conforto. Esses relacionamentos não permitem um grau de intimidade que se obtém num cotidiano compartilhado lado a lado. Criamos relações, muitas vezes, superficiais e passageiras, muito fáceis de serem excluídas da nossa vida com simples cliques de um mouse.

04Mesmo que nem sempre estar ao lado de alguém signifique estar junto, ainda acredito que seja mais fácil perceber isso num contato presencial do que por meio de um celular ou pela internet. Expressões faciais, tom de voz, linguagem corporal. Tudo aquilo que nos ajuda a interpretar o que nosso interlocutor diz é eliminado, e substituído por emoticons e risadas esquisitas num SMS ou por inbox. Acredito nos meios de comunicação como facilitadores das relações sociais, mas a partir do momento em que as substituem, geram um sério problema para a construção de relacionamentos verdadeiros entre as pessoas.

Da graça ou da desgraça: que Deus é o seu?

Por Hugo Fonseca   

Está na bíblia, em Levítico:

19, 19

Não use roupas de duas espécies de tecido.

19, 27

Não cortem as pontas dos cabelos em redondo e não aparem a barba.

19,28

Não façam incisões no corpo por algum morto, nem façam tatuagens.

11, 7-8

Considerem impuro o porco, pois, apesar de ter o casco fendido, partido em duas unhas, não rumina. Não comam a carne desses animais, nem toquem o cadáver deles, porque são impuros.

11, 10-11

Mas todo aquele que não tem barbatanas e escamas e vive nos mares ou rios, todos os animais pequenos que povoam as águas, e todos os seres vivos que nelas se encontram, vocês considerarão imundos.

Não está fácil pra ninguém!

Seguindo esses dizeres, estaríamos todas/os no inferno daqui um tempo. Qualquer tatuada/o, inclusive aquelas/es que tatuaram a face de Jesus, ou qualquer pessoa que já tenha ido a um bom churrasco com carne de porco está ferrada no dia do juízo final.

Frutos do mar não pode mais! Ainda dá tempo: não faça nunca mais sua barba. Deus está vendo!

A bíblia é um tanto quanto divertida!

Fico pensando: será que existem cristãs/os que levem esses dizeres do Levítico ao pé da letra? Acho que é consenso que não, né? Alguém já bateu na sua porta, domingo às 8 da manhã, dizendo que Deus tem uma mensagem pra você: não coma frutos do mar? Na boa, todo mundo entende que a bíblia é um escrito datado e a sociedade avança. Qualquer cristã/ão sabe que não dá pra descontextualizar o mundo!

Frei Betto[1] já disse que quando se lê a bíblia é preciso passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. A Igreja já acusou judeus pelo assassinato de Jesus, já considerou legítima a escravidão, condenou ao limbo crianças mortas sem batismo, tudo porque a santa Palavra era lida ao pé da letra, sem a criticidade histórica. Ainda bem que agora é diferente!

Também no Levítico (18,22), existe um novo versículo que não foi citado ainda: Não se deite com um homem, como se fosse mulher: é uma abominação!

08Tão engraçado quanto não poder cortar o cabelo, certo?

Não para todo mundo. Nesse ponto a gente tensiona nossa proposta de consenso com muitas/os cristãs/ãos. Marco Feliciano está aí pra sambar na nossa cara e dar um show de hermenêutica singularizadora.

Realmente, ninguém acha que comer carne de porco é pecado, mas agora, seguindo um trecho que está em mesmo pé de igualdade em relação a outros trechos absurdos, há quem diga enfaticamente que a homossexualidade é uma abominação (com algumas variações, mas no mesmo sentido). Mais que isso, há quem defenda essa ideia em espaços na Universidade, no Congresso Nacional Brasileiro e no Conselho Federal de Psicologia.

Inquestionável, a bíblia passa nesse momento a ter o poder de ditar por si que não se pode vivenciar a sexualidade de uma maneira não heteronormativa, poder esse que era inimaginável nas outras circunstâncias. De repente tudo aquilo que nós achávamos divertido virou legítimo discurso nos espaços de discussão públicos. De repente, nada mais pode contrariar essa que é a lei dos homens e das mulheres. De repente a palavra morre e perde seu significado de movimento, de processo histórico, de vida.

Leonardo Boff compreende isso como parte de uma tensão interna dentro das Igrejas. Na medida em que a palavra vai perdendo seu sentido no tempo, toma forma o modelo de testemunho, que é o da Igreja da tradição, que promoveu as missões na África, Ásia e América latina, sendo até cúmplice em nome do testemunho da dizimação e dominação de milhares de povos originários, africanos e asiáticos. É o modelo que Reduziu a Igreja a uma ilha isolada ou a uma fortaleza, cercada de inimigos por todos os lados  dos quais temos que nos defender.[2]

Nesse sentido, a Igreja do diálogo, aquela cuja missão, ainda para Boff, é ser sinal da história de Deus dentro da história humana e também um instrumento de sua implementação junto com outros caminhos espirituais, não tem sequer espaço.

Pela vertente do testemunho, Deus não assume nenhuma forma humana e a Igreja não se propõe a vivenciar sua palavra de acordo com a realidade social. As/os cristãs/ãos deste modelo se sentem aptas/os a desenvolver uma missão salvadora única. Nisso são fundamentalistas, pouco dispostos ao diálogo e o resultado disso é realmente aquela interpretação da bíblia que ignora as pessoas e corrobora com opressões históricas.

O fundamentalismo[3] emerge trazendo sua bíblia debaixo do braço, uma venda nos olhos e graves falhas nas sinapses cerebrais. Ele constrói por isso um Deus do Levítico (livro bíblico cuja autoria é tradicionalmente atribuída a Moisés), que condena, castiga, aponta os pecados e limita direitos de algumas pessoas, em especial de homossexuais, inclusive possivelmente de Jonatas e Davi[4]. Constrói um Deus que a partir do momento em que condena o simples ser d@s sexodivers@s, corrobora com os ideais homofóbicos de uma sociedade que agride milhares de lésbicas diariamente e violenta a liberdade dos gays. Um Deus que descontextualiza o processo de opressão como uma construção social e lê os versículos como verdades absolutas.

Em meio a tudo isso, eu, que nasci em uma família católica e fui uma criança muito temente a Deus, fico agora um pouco confuso. Todos os dias antes das refeições eu rezava: Senhor, obrigado pelo meu alimento. Dai pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão; todos os dias antes de dormir eu pedia para que o Senhor não me desamparasse. Como era legal aquele Deus! Protegia-me e ainda por cima me fazia estar indignado com as injustiças do mundo. Eu não sabia ler, mal conseguia pronunciar aquelas orações decoradas, mas já entendia que o mundo precisava de amor e eu via em Deus essa possibilidade de ser mais amor.

Não vou adentrar ao assunto do que faço antes de comer ou dormir hoje em dia, mas apenas preciso enfatizar que não quero ter que acreditar que esse Deus que toma partido por um mundo excludente e opressor é o mesmo por quem eu quando criança juntava as minhas mãozinhas pra pedir proteção, pra pedir mais amor.

07

A graça do Levítico virou desgraça pra muita gente. Umas coisas são mais aceitáveis que as outras e ninguém sabe me explicar o porquê. E é essa falta de porquês que me faz terminar esse texto da maneira como comecei, com diversão. Se nós nos perguntarmos por que algumas pessoas merecem o inferno outras não. Se nós nos desafiarmos quanto ao nosso lado na história dos homens e das mulheres no mundo. Se nós refletirmos sobre os motivos que nos levam (ou não) a juntar nossas mãos. Enfim, e sobretudo, se nós nos permitirmos viver novas formas de amor, possibilitaremos a leitura de todos os versículos do Levítico como linhas e pensamentos em desuso, como frases cômicas e não como motivos de morte e negação.

Eu acredito que depois de tudo isso, um dia, a gente vá fazer amor com a naturalidade de fazer a barba. E não haverá Deus com a audácia de condenar coisa tão bela!


[3] Desconheço as correntes do fundamentalismo cristão. Uso fundamentalista aqui como uma construção política das últimas discussões que têm tratado dos direitos LGBTs e a laicidade do Estado.

[4] I Samuel, 18 1. Tendo Davi acabado de falar com Saul, a alma de Jônatas apegou-se à alma de Davi, e Jônatas começou a amá-lo como a si mesmo. 2. Naquele mesmo dia Saul o reteve em sua casa e não o deixou voltar para a casa de seu pai. 3. Jônatas fez um pacto com Davi, que ele amava como a si mesmo. 4. Tirou o seu manto, deu-o a Davi, bem como a sua armadura, sua espada, seu arco e seu cinto. 

Caminho. Nunca sozinho.

Por Guilherme Crespo   

Havia apenas uma porta à sua frente. Nada havia ao lado. Nada havia atrás. Entrou. Estava muito escuro. Não podia ver nada. Apenas tateava procurando uma forma de sair. Encontrou algo que se mexia. E falava. Era uma pessoa. Ela lhe falava “me toque” “venha” “segure minha mão”. “Vamos tentar achar um caminho”.

Ficou ali por anos. Sempre que encontrava uma pessoa, fugia. Tinha medo, pois se acostumou com o escuro. As pessoas eram estranhas, não se podia confiar nelas. Era assim e nada poderia fazer. No seu cantinho já tinha tudo que precisava “sabe-se lá o que vou encontrar se sair daqui”.

Mesmo no escuro, aprendeu a colocar a perna na frente do caminho de outras pessoas. Muitas caíam. Elas vinham “como quem não quer nada” ou “querendo coisa demais” e só fazia isso pra defender seu cantinho. Tornou-se até divertido. Muitas não levantavam mais. Cada uma que achasse seu cantinho.

Morreu ali. Com um pouco de melancolia. Mas achando que tinha sido uma boa vida.

***

Sempre recebeu bem outras pessoas. A cada toque sincero, uma luz se acendia e podia enxergar melhor. Encontrou novas portas. Aprendeu que o escuro sempre permanecia quando tentava caminhar sem companhia. A cada passo de mãos dadas, novas cores surgiam e podia ver coisas e pessoas que nunca tinha visto.

Um dia entrou por uma porta. Logo abraçou pessoas diferentes, nunca as tinha visto. Era um belo lugar aquele. Podia ver a beleza em cada canto, em cada rosto, em cada curva. Andando com suas companhias, chegou perto de uma pessoa encostada num canto. Ela parecia retraída. Tentou se comunicar. A pessoa fez um gesto forte e violento, de repulsa.

Caiu no chão. Suas companhias tentaram ajudar. Naquele lugar, cada pequeno gesto podia ter grandes consequências. Não conseguiram. Não levantou. Saíram desoladas, no escuro. Apenas podiam ouvir as risadas daquela pessoa no canto. Seria mais uma grande luta para criarem nova confiança e esperança.

Nunca desistiram.

Mundo sem Mulheres: sobre pessoas e papéis

Por Gabriela Tavares[1]   

No último dia do mês de março estreou no Fantástico o quadro “Mundo sem Mulheres”. A trama consiste em tirar onze mulheres de seus lares durante uma semana e filmar a vida das suas famílias nesse período. O objetivo é, meramente, aguentar a vida cotidiana.

Em um primeiro olhar, apenas mais um enredo chamativo e divertido para o programa de domingo na rede aberta. É um tanto quanto engraçado assistir aos maridos tentando conversar com as crianças e completamente perdidos nas tarefas mais básicas: manter a casa limpa, preparar comida e cuidar dos filhos. Olhando mais atentamente, contudo, percebe-se que há várias implicações interessantes dessa experiência. Comecemos pela propaganda da internet:

“O Fantástico quer saber: será que eles vão aprender a ser mais compreensivos, mais pacientes? E a valorizar o sacrifício que nós, mulheres, fazemos pela família? É o que a gente vai ver a partir do primeiro episódio da nova série do Show da Vida!”

06Compreensão e paciência são atributos exclusivamente femininos na visão do Fantástico. Além disso, o trabalho que a mulher faz dentro de casa pela família é chamado de sacrifício. O que o Show da Vida propõe de maneira leviana nos faz pensar: existe um papel reservado às mulheres dentro de casa? Na sociedade? Se sim, qual é esse papel?

Após a saída das mulheres os maridos remanescentes preparam uma grande festa com o tema: finalmente! Parece um sonho em comum se livrar de suas esposas. É meio estranho, afinal, casamento é algo consensual hoje em dia e não há mais motivos para ficar com alguém que se quer ver pelas costas. Façamos um esforço para entender isso apenas como uma piada.

Primeiro dia. O pai prepara a comida do filho que faz uma expressão de insatisfeito e conta formigas no purê de batatas. “Formiga faz bem para a vista”, responde o pai, enquanto reclama de ter de preparar almoço, janta e, ainda por cima, limpar a cozinha duas vezes por dia.

Algumas palavras são comuns durante o quadro. Sobreviver é falado algumas vezes. O questionamento é se homens com seus 30 a 50 anos conseguem sobreviver durante uma semana sem mulheres.

A resposta é óbvia: claro que sim! É bem fácil viver sem mulheres, muita gente vive. Difícil é manter a família de televisão com almoço na mesa todo dia, camas feitas e filhos saudáveis. Isso sim é reservado às mulheres. É responsabilidade delas manter o lar aceitável para os padrões de comercial de sabão em pó. Tente ser uma esposa que não faz isso e verá o que será dito. Na sociedade, a mulher deve se “sacrificar” pela sua família, não o homem, nem os filhos.

05Até hoje a família não representa uma célula de esforços conjuntos para atingir um objetivo. Pelo contrário, os papéis de cada pessoa são fechados e determinados. A esposa cria os filhos e cuida da casa, ela pode trabalhar se quiser, mas não pode se desleixar com sua posição. O marido trabalha e sustenta família, se for um excelente marido ajuda nas tarefas de casa. Os filhos obedecem aos pais. Isso é família da propaganda de sabão em pó.

Por óbvio, não é essa a crítica que o Fantástico propõe com o quadro. O esperado é que depois de três ou quatro dias os maridos admitam que não conseguem viver sem as mulheres, pois são incapazes de fazer o que elas fazem. A partir disso, a lição de moral é: valorize sua mulher. Não é de tudo uma mensagem ruim, mas isso pode ir além.

09Não espero que, efetivamente, um programa de domingo na televisão aberta proponha uma discussão aprofundada sobre papéis sociais e a importância de se subvertê-los para uma sociedade mais igualitária. Longe de mim esperar isso!

Da mesma forma, não espero que o programa adentre nas diversas perspectivas que uma célula familiar pode agregar. A programação na televisão aberta é heteronormativa por excelência, portanto, não acredito que haveria o quadro “Vida sem Parceiro/a”, no qual o cotidiano de casais homoafetivos seja abordado sem preconceitos – apesar de tal experiência ser bastante interessante para analisar, justamente, os papéis definidos nesse tipo de relacionamento, as opressões, as vantagens etc.

O que eu realmente espero é que esse programa que alcança milhares de famílias, incluindo a minha e a sua, possibilite uma visão crítica de nós mesmos quanto aos nossos companheiros, irmãos e pais. Se dez pessoas que assistirem ao programa puderem repensar suas expectativas quanto cada um dos membros de sua família já estaríamos dez pessoas mais perto da liberdade.

A cultura determina os papéis familiares e sociais. Questioná-los significa procurar de que forma essa determinação ainda é adequada à cultura atual. Na minha opinião, não se justifica a separação homem/mulher dentro de um relacionamento, uma vez que não existe a necessidade de plantar, caçar ou proteger nossas ocas. Além disso, não há mais religião que determine nossa forma de viver, pois deus está morto para o Estado – em teoria. Questionemos, pois, e observemos como se dará a vida desses maridos durante uma semana sem uma escrava em casa.

01As reminiscências desses papéis, geralmente, representam uma estratégia muito perversa de opressão e reserva de poder a um determinado grupo. Por essa razão, sempre tento me determinar independente disso – respeitando os limites do meu paradigma, obviamente. Portanto, quando chegar a hora de construir uma família, pretendo fazê-la do zero: sem esperar nada de alguém pelo seu gênero, idade, posição social. Um mundo sem papéis é um mundo de liberdade, no qual cada indivíduo desenvolve suas capacidades naquilo que lhe é mais prazeroso ou necessário.  Um mundo sem papéis permite reinventar, reconstruir e reorganizar a todo momento. Nesse mundo, o quadro “Mundo sem Mulheres” se quer faria sentido.


[1] Essa pessoa é absolutamente viciada em reality shows, e poderia passar uma tarde inteira assistindo a um programa que filma comedores compulsivos de azeitonas. Além disso, feminista assumida não consegue olhar para nada sem perceber as nuances de gênero envolvidas. Portanto, não há imparcialidades aqui, só pensamentos bastante subjetivos.